O Brasil vibrou com a vitória do judoca peso-pesado David Moura, que conquistou a medalha de ouro nos jogos pan-americanos que estão sendo realizados em Toronto, Canadá. Na final, o mato-grossense arrasou, ou, como diz a garotada, ele atropelou seu adversário ao iniciar aplicando um golpe considerado de sacrifício, mas com tanta perfeição que a luta logo se encerrou.
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O que difere o jovem David Moura dos jovens chamados de “zumbis”, ou “nóias”, que vivem nas cracolândias? A força do exemplo de seu pai, medalhista nos jogos pan-americanos de 1975. David diz que cresceu ouvindo as histórias dos treinos, viagens, lutas de seu pai, Fenelón Oscar Müller. Certamente, se o pai do nosso medalhista de ouro tivesse exemplificado a vida de abuso de álcool e outras drogas, como fazem, infelizmente, a maioria dos pais, não teríamos vivido este momento de conquista-êxito no esporte.
Na mesma noite, outro caso de pai e filho emocionou os brasileiros afeiçoados ao esporte. Após conquistar todos os títulos possíveis como jogador de futebol, tanto em clubes, quanto pela seleção brasileira, sendo considerado, inclusive, o melhor jogador do mundo, Rivaldo se aposentou e se tornou presidente do Mogi Mirim, clube que o revelou. No entanto, diante da necessidade de jogadores e da falta de dinheiro para a contratação de reforços, ele voltou a atuar como jogador num momento em que seu filho Rivaldinho também joga na mesma equipe. E para a felicidade de ambos e dos torcedores, em 14 de julho de 2015 eles jogaram juntos e, conforme o jargão futebolístico, “comeram a bola”, marcaram três gols e conseguiram a vitória.
Foi fácil para Rivaldo chegar aonde chegou, no lugar em que hoje vemos Messi ou Cristiano Ronaldo? Por que motivo ele pode, aos 43 anos de idade, voltar a jogar uma partida de futebol profissional? É claro que não foi fácil alcançar tantas metas, muito menos voltar a atuar como atleta profissional já com a idade considerada muito avançada para tal esporte. Trata-se de um atleta que, mesmo curtindo a vida de modo saudável, sempre renunciou aos excessos de certas baladas, de noitadas, à vida que seus colegas consideram como sendo a normal, razão pela qual seu filho segue o mesmo caminho e, quiçá, terá muita felicidade em sua trajetória. Ora, para todos os seres humanos, sobretudo para os jovens, é mais um caso de ousadia, de optar pelo caminho do bom senso e do respeito ao maior presente que
Deus nos concedeu, a vida; bem como ao corpo físico.
No entanto, a história das Irmãs Vicente é o que mais nos chama a atenção, ainda mais quando nos deparamos com tantas informações negativas relativamente aos crimes entre adultos e jovens, pois a droga está na raiz de quase todas as mazelas atuais na sociedade. Luana e Lohaynny Vicente se tornaram vice-campeãs pan-americanas de badminton, um feito inédito para o Brasil. Elas são filhas do traficante Bodão, conhecido como dono Chapadão, no Rio de Janeiro. Como era constantemente perseguido pela polícia, Bodão chegou a mudar-se 15 vezes num ano e sempre levava sua mulher e as filhas para novo esconderijo. Morto numa das operações, em 2002, sobrou o trauma para as meninas estigmatizadas. Mudaram-se para a favela da Chacrinha e foram acolhidas por um projeto social que passava a adotar a prática de um novo esporte, o badminton. Aprenderam, suaram muito em seus treinos e os resultados estão sendo colhidos.
Tais histórias comprovam a importância do exemplo familiar, para o bem ou para o equívoco. Mas também demonstram que é possível recuperar vidas desviadas de um caminho de equilíbrio, trabalho, paz, saúde, religiosidade e ética. O esporte é fundamental para tanto, assim como os projetos sociais governamentais ou não, eis que o esporte é uma medida de educação e prevenção.
Prevenção é a palavra de ordem! Muito mais barata para a economia financeira e emocional das famílias e da coletividade. É verdade que não se mudam costumes do dia para a noite, mas é preciso que comecemos a enxergar a vida a longo prazo, sem deixar de cuidar de situações imediatas. Até quando continuaremos perdendo tempo e recursos financeiros com medidas que apenas atuam nas consequências, ao passo que deveríamos investir nas causas, semeando com planejamento?
Ainda bem que temos o esporte. O esporte “faz a cabeça”. O esporte, amador ou de alto rendimento, produz prazer físico e mental. Salve o esporte! Salve nossos atletas e os bons exemplos de seus pais!
Nestor Fernandes Fidelis é presidente da Comissão de Políticas sobre Drogas da OABMT